Foto: Luis França
Em primeiro lugar preciso agradecer a Babi, não somente pela entrevista, mas por todo carinho. Você é uma inspiração para mim e tenho certeza que para muitas mulheres que tem gasolina nas veias.
A gente conhece um pouco da sua história e a forma que você assumiu a HotCar. Mas me diz, naquele momento você pensou em não assumir, em dizer não quero isso pra mim, vou vender tudo ou algo do gênero?
Na verdade eu nunca tive como meta profissional trabalhar exclusivamente na HotCar como chefe de equipe, eu acabei chegando nesse cargo através de um momento da minha família muito difícil, que meu pai tinha sido diagnosticado com câncer e pediu minha ajuda e como a minha família sempre foram minha prioridade, eu larguei minha profissão original (pra quem não sabe a Babi é Veterinária) para acompanha-lo no processo, caso ele precisasse de mim, mas ainda bem, ele respondeu muito bem ao tratamento. Em 2020, eu havia decidido voltar à Veterinária e foi quando tudo aconteceu. Eu não imaginei que teria que enfrentar esse desafio, a minha mãe pediu para eu cuidar de todos os membros da equipe, enquanto ainda estava no hospital e eu respirei fundo e fui. O objetivo inicial era terminar uma boa temporada em 2020 e cumprir todos os contratos com patrocinadores. Gostaram do meu trabalho (aqui deu pra ouvir o sorriso na voz dela) e acabou que, de uma forma muito natural, esse projeto da HotCar Nova Geração, comandada por mim, foi tomando forma e força. E é engraçado, porque hoje em dia eu não me vejo fazendo nada diferente, eu estou no lugar certo e fazendo o que mais gosto.
Tenho certeza que você sabe o tamanho do seu feito, você é a primeira e única mulher chefe de equipe da história da Stock Car, apesar de estar sempre dos boxes por todos os anos da equipe e já estar na área financeira da HotCar, quando você assumiu a chefia, chegou sentir que te tratavam diferente por ser mulher ou por ser a filha do Dono?
Como meu pai transformou a paixão dele em um negocio, ele sempre fez questão de que a família estivesse presente no dia a dia da equipe, então acabou que eu não era uma pessoa muito diferente no meio quando eu comecei a trabalhar e eu sempre fui muito bem tratada, aceita, não tenho o que reclamar. Logico que quando a gente é um pouco diferente do que é usual no dia a dia, pois basicamente é um ambiente dominado por homens, algumas pessoas estranham, só que eu sempre trabalhei e tratei a minha presença dentro da equipe com tanta naturalidade que as coisas fluíram de uma forma muito boa. Hoje em dia, eu tenho muito o respeito de todos, todos me aceitam muito bem e dentro do meu time nos somos uma familia, confio 100% neles e quem não é acostumado ou quem julga a presença de uma mulher no automobilismo é com eles, porque quem me importa mesmo é meu time, que me respeita muito e luta diariamente ao meu lado pra conseguir os melhores resultados.
Ano passado quando você subiu naquele pódio, representando a equipe, a sua família e principalmente o Amadeu, seu pai, qual foi o sentimento além de dever cumprido, como chefe e como herdeira de um legado? (Tenho que confessar que assisti mil vezes aquele vídeo do insta da Stock e me emociono em todas)
Quando eu subi naquele pódio, passou um filme na minha cabeça e foi uma sensação de conquistar o impossível, porque muitas vezes durante toda a luta, depois de perder a pessoa mais importante da minha vida, depois de ver a equipe fragilizada, tentando se reconstruir, eu sabendo de todos os desafios, não é fácil sobreviver de esporte no Brasil, mas aquele momento prova pra gente que tudo é possível, que nós somos capazes e da aquele gostinho de quero mais e é com essa sensação que a gente inicia essa temporada. Nos vamos mostrar que não foi um acontecimento pontual e que paixão e vontade de acontecer faz sim a diferença numa competição.
Agora falando no presente, saiu o tão esperado anúncio do primeiro piloto, o Gaetano e que notícia sensacional, qual a expectativa para o trabalho que será feito ao longo desse ano?
A chegada do Gaetano no time foi como um sopro de ar fresco para todos nós. Está todo mundo muito motivado, empolgado para fazer diferente novamente dar o seu melhor. Todos nós admiramos muito o profissional, o piloto que é o Gaetano e além disso, ele tem as mesmas filosofias que nós, combina muito o jeito dele com o da equipe e está sendo uma honra incluir ele na família HotCar e eu tenho certeza que essa parceria vai ser de muito sucesso. Ambos os lados estão motivados a ganhar e isso já vai ser incrível. A gente já vai começar com o pe essa primeira etapa de 2023.
Algo que eu não posso deixar de perguntar, como você se sente sabendo que inspira tantas mulheres que querem entrar ou seguir no automobilismo?
Eu espero que eu esteja inspirando alguém, principalmente que as pessoas vejam que eu amo o que eu faço, que eu sou muito integrada ao meu time, que eu sou uma pessoa muito ativa nas atividades do nosso dia a dia, e eu acho que ter uma referencia, ver que a gente pode tudo e também tem outras grandes profissionais no grid ao meu lado, tanto na área de mídia, engenharia, organização, marketing, a gente vê muitas ótimas profissionais e eu espero muito, é um projeto pessoal meu, expandir o meu time e incluir mais mulheres e pessoas jovens que sonham em ter uma possibilidade de trabalhar no automobilismo, mas ainda não encontraram a porta de entrada. Eu espero que a HotCar seja uma porta de entrada sempre para novos talentos e é nisso que já estou trabalhando esse ano, tanto pra pilotos, quanto pra equipe e eu quero criar novas oportunidades para todos, não exatamente para quem já esta aqui, porque o nosso meio é muito conhecido por ser tradicional, estarem sempre as mesmas pessoas, então eu quero mudar isso um pouquinho e trabalhar para trazer um sopro de ar fresco pro grid.
E pra finalizar, o que a Babi quer deixar de legado? Como chefe de equipe, como mulher?
Poxa, falar em legado é algo tão forte e eu ainda sou uma menina aprendendo, dando meus passinhos e tentando crescer em um meio muito desafiador, mas eu acho que eu gostaria de deixar um exemplo de que tudo é possível, de que as vezes nem sempre as nossas escolhas profissionais são o nosso futuro, eu escolhi ser Veterinária e acabei sendo formada pela vida para ocupar o cargo que ocupo, como chefe de equipe de automobilismo. Então, eu acho que pelo menos a minha historia eu quero que seja uma historia de um exemplo , onde você pode transformar uma grande tragedia, algo triste, em uma historia de superação e que podemos aprender a unir forças para fazer o melhor. eu espero que a minha historia seja uma historia de motivação, onde mesmo depois do pior cenário você pode virar o jogo, vencer e continuar lutando e inovando, mesmo sendo a mesma pessoa, tendo o mesmo time e estando no mesmo esporte você pode fazer diferente.